Crítica: Batman v Superman: A Origem da Justiça


ESTE TEXTO CONTÉM SPOILERS, LEIA POR SUA CONTA E RISCO
Na última quarta-feira (23), fui ao cinema assistir na pré-estreia aquele filme que aguardei praticamente toda a minha vida. A ansiedade era cada vez mais forte a cada dia que passava nos últimos três anos. A notícia que dizia que teríamos a Trindade da DC Comics na telona serviu para encher-nos de alegria, juntamente com um planejamento até 2020 de filmes sobre os heróis desta editora. 
A escalação de Zack Snyder como diretor do longa foi um tanto quanto controversa, afinal, costuma se perder nos atos finais de seus filmes, foi assim com Man Of Steel (2013)Watchmen (2009) - bombardeado com críticas negativas tanto da crítica quanto do público, hoje é considerado um filme cult -300 (2006) e Sucker Punch (2011)Snyder sabe usar dos tons sombrios em seus filmes, além do jogo de câmera e a decisão do que focar ou não durante as cenas. Mais um filme que o diretor acerta, entregando o que vinha prometendo há três anos.  
Quanto às inúmeras referências, podemos citar os quadrinhos mais presentes, começando com Crise nas Infinitas Terras (1985) - parte em que o Flash vem visitar Bruce alertando-o sobre o futuroA Morte do Superman (1992), a franquia de jogos Arkham (2009-2015), cujos movimentos de luta mais brutos do Batman eram perceptíveis. Em Man of Steel #3 (1986), vemos o primeiro encontro entre Supes e Bats após os eventos de Crise nas Infinitas Terras e nos é apresentado o azulão indo a Gotham questionar os métodos violentos de Batman. 
Ainda temos Injustice – Gods Among Us (2013), presente no sonho do Batman, onde vemos um Superman violento governando o mundo após a morte de Lois. A já esperada Uma Morte em Família (1988) também é presente quando mostrado o traje de Robin de Jason Todd com mensagem do Coringa. Por último, a espinha dorsal do filme, temos O Cavaleiro das Trevas (1986), de Frank Miller. Não apenas a luta entre os dois titãs, mas também diálogos inteiros tirados deste arco canônico. Uma verdadeira chuva de referências, fora, é claro, de Darkseid – tinha um ômega estampado nas areias da Gotham devastada. 
Voltando ao filme, Batman v Superman tinha uma tarefa complicada, afinal, não seria fácil dar continuidade aos filmes passados e servir como base sólida para os filmes da Liga da Justiça. Os três atos são separados entre a introdução das personagens e suas convicções, a luta entre Batman e Superman e, o clímax, que apresenta a batalha final entre a Trindade e Apocalypse. A maior crítica negativa é às cenas de sonhos de Bruce, que, tentando fugir da monotonia, desandou o primeiro ato, o que acabou afetando no resto do roteiro. Essas cenas não foram bem trabalhadas e não fizeram diferença alguma no decorrer da história, exceto para contar o que viria nos filmes da LJA, mas, poderiam ser facilmente retiradas. 
A trama começou com Bruce Wayne nos eventos de Metropolis dois anos atrás - Man of Steel - correndo pelos escombros e ajudando as pessoas que tentavam fugir da luta entre Superman e General Zod. Apesar de sair correndo em direção a um prédio de sua empresa, Wayne salva uma garotinha e, após saber da morte de seus pais por culpa da luta, Bruce cria ódio pelo azulão por ir contra aquilo que defendia há mais de vinte anos. Esta raiva pelo Supes desencadeou na proposta ridícula de Batman considerar a ideia de assassinar Kal-El. Já a motivação de Clark era porque achava os métodos do vigilante muito brutais (alienígena babaca e hipócrita). Mesmo sabendo que o Morcego de Gotham já matou antes, principalmente em algumas histórias antigas, exterminar o Homem de Aço pareceu forçado. Sem pontos para Snyder dessa vez. 
Por ser um filme de introdução ao Universo Cinematográfico da DC, pouca coisa relevante acontece até a luta entre Bats e Supes. Temos Batman investigando Clark e Luthor, Diana correndo de um lado para o outro por uma foto que data da Segunda Guerra Mundial e Lex Luthor batendo os pés para a Senadora em busca de autorização para importação de kryptonita. Em um certo momento, após Bruce acessar o computador de Luthor e copiar arquivos para si, temos uma pobre apresentação dos futuros membros da Liga da Justiça. Em câmeras de segurança e filmagens vemos Flash, Ciborgue, Mulher-Maravilha e Aquaman. Inclusive, o vídeo que mostra o Ciborgue parecia um vídeo mal gravado de YouTubeSnyder podia caprichar mais nestes detalhes. 
No segundo ato, temos a briga entre Batman e Superman, o motivo de todos terem ido ao cinema. A melhor luta do filme, aquela em que os dois se bateram num combate vital, a que vimos uma das maiores surras em filmes dos dois. Batman vence e, no fim da luta, quando está com a vida de Supes nas suas mãos, desiste de matá-lo ante a menção do nome de sua mãe. Essa cena foi discutida e até motivo de piadas devido à má interpretação. Confesso que nunca tinha parado para reparar que o nome da mãe de ambos era o mesmo (vergonha). Porém, não foi esta a razão da hesitação, longe de ser. A menção de Martha o parou (sabemos como a morte dos pais de Bruce ainda o afeta), mas foi a humanidade do alienígena que Bruce viu nos olhos de Clark. A percepção de que mesmo com sua lista imensa de superpoderes, ele também tinha família e problemas como todos. As mensagens são mais subjetivas do que parecem. 
Lex Luthor é outro ponto de interrogação deste filme. A atuação de Jesse Eisenberg está muito boa, porém, a personagem é completamente diferente da que estamos acostumados. Nos filmes antigos do Superman, Lex era um aficionado por imóveis, enquanto que nos quadrinhos é um notável manipulador. Porém, um garoto sarcástico, psicopata e mimado com motivação falha não foi de muito agrado, principalmente usando sequestro da mãe de Clark para alcançar seus objetivos. 
Ao término do segundo ato, vemos o clímax tomar a forma de um estranhíssimo Apocalypse, um inimigo que Superman nunca antes havia enfrentado, tal qual na famosa HQ que trata sua morte. O terceiro ato foi muito bom (exceto por Supes sair do meio da luta pra salvar Lois de novo), com uma coreografia de luta bem trabalhada, trilha sonora cativante e a ação que todos esperaram por 2h30min. Pena que durou pouco. O tamanho do clímax foi decepcionante, lutar contra Apocalypse não é a mesma coisa que ter Metallo no outro lado do campo de batalha. Mas, vimos a elegância e brutalidade do Morcego, a sensualidade e o poder da Mulher-Maravilha e, mais uma vez, o Superman lutando – isso não exige adjetivos. Digno de emoção. 
BATMAN 
Mesmo criticado por praticamente todos os fãs de Batman (eu incluso), principalmente depois do fracasso de Demolidor (2003), Ben Affleck vestiu o manto negro do vigilante das sombras. O peso do papel é muito maior e este não é um grande ator – bem longe disso –, mas, é notável que Affleck colocou sua reputação nas costas da personagem. Vemos um homem que está há 20 anos lutando contra maníacos psicopatas e cuja paciência se esgotou. Do outro lado da moeda, um bom Bruce Wayne, com o ar de playboy e detetive que faltou em algumas versõesAffleck não apenas conseguiu realizar muito bem ambos os papéis, como torna-se o melhor Batman/Bruce Wayne apresentado. Mostrou que poder não é requisito para assumir a liderança do grupo e que enfrentar Apocalypse com "brinquedos" mesmo sabendo que vai perder, é motivo de orgulho. Nota 8,5. 
SUPERMAN 
Uma das personalidades mais fracas do filme e também uma das piores atuações. Mesmo com momentos altos de CavillSupes não alcançou o esperado neste longa. Vimos um Superman ainda em conflito consigo mesmo sobre sua aceitação na Terra e completamente fechado em seu mundo com Lois Lane. É sabido que a repórter do Planeta Diário significa o mundo para o azulão, porém, completamente desnecessário Superman salvá-la a cada meia hora de filme, dando a impressão de que a mesma vive para ser salva por ele. Isso cansou muito e fez o público revirar os olhos mais de uma vez. Henry Cavill ainda é um excelente Superman, mas um Clark bem mediano. Faltou maior defesa de seus ideais. Faltou ser o espelho, a inspiração de herói que o mundo esperava. Nota 6,5. 
MULHER-MARAVILHA 
Apesar da grande atuação de Affleck como Bats, Gal Gadot atraía o filme para si sempre que aparecia. Seu papel durante o filme não foi de grande interesse e suas ações não tinham motivos aparentes. Sua ida à festa de Luthor apenas para buscar uma foto foi vaga. Porém, a partir do momento que Diana desiste de pegar o avião e volta para ajudar na batalha contra Apocalypse, o filme se ajoelha aos seus pés. A coreografia é muito bem-trabalhada e a atuação de Gadot está impecável. Nota 7,5. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
O filme foi feito para um único público alvo: os fãs, principalmente os que leem quadrinhos e conhecem os arcos canônicos. Não vá ao cinema esperando que o roteiro esteja todo mastigado e sem necessidade da leitura das revistas, como acontece na Marvel, e que é o suficiente para entender o que está acontecendo, pois a DC entope de referências e coloca à mesa um fan service mais do que específicoA crítica de cinema geralmente não apoia filmes sombrios demais de super-heróis, muito menos essa decisão que torna o público limitado, o que é um cardápio cheio para opiniões negativas. 
O CGI em excesso também é um problema, ou seja, o filme deixa a desejar em momentos que não deveria. Porém, no geral, o filme funciona e apresenta bem a proposta que pretendia. Outro ponto positivo é a trilha sonora de Hans Zimmer está excelente - apesar do aproveitamento de Man of Steel -, principalmente o tema da Mulher-Maravilha (excepcional), capaz de colocar um sorriso no rosto do público e fazer os fãs a aplaudirem. 
Nota final: 4/5 



O que você achou de Batman v Superman - A Origem da Justiça? Deixe sua opinião nos comentários abaixo!

Unknown

Cavaleiro que diz 'Ni', viajante das realidades temporais e ruminante mental aspirante a escritor.

0 comentários: