Crítica: A Bruxa

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Primeiramente, este é um filme de terror psicológico, mais um pertencente a esta onda de bons longas do gênero, então, se você, leitor, não gostou de Babadook ou do clássico O Bebê de Rosemary, este não é um filme para você, poupe as duas horas a si mesmo e assista Annabelle novamente. 
Se há muito aguardava por um filme de terror que agradasse por sua essência e causasse medo e/ou nojo, venho sido recompensado aos poucos. Por fora dos clichês baratos da trilogia Sobrenatural e do filme Invocação do Mal, ambos de James Wan, as raízes do horror vêm em busca do sol novamente através de longas como Babadook e, agora, A Bruxa. 
Eu, que sou fã do gênero em todas as mídias possíveis, já estava ansioso para assisti-lo logo após o trailer. Mas acalmei os ânimos, afinal, isso é comum nos filmes de terror. Porém, duas notícias me deixaram interessado novamente, a produção pelo brasileiro Rodrigo Teixeira, da RT Features, e um tweet do mestre do terror, Stephen King (A Torre Negra, O Iluminado, Carrie), comentando sua experiência no cinema - "A Bruxa me deixou com muito medo. E é um filme real, tenso e tão provocante psicologicamente quanto visceral". A direção e roteiro ficaram nas mãos do estadunidense Robert Eggers. 
O filme é baseado em contos e documentos judiciais do século XVII para apresentar sua versão cinematográfica e, ao assistir com as expectativas acima do esperado, notei primeiramente que o roteiro é apresentado sem pressa, como se arasse o terreno para o espectador. À primeira vista nos é apresentado uma família inglesa que viaja à Nova Inglaterra (EUA) de 1630. Estabelecidos na aldeia, são julgados e expulsos do lugar, sem muitos motivos aparentes, e se mudam para uma floresta a alguns quilômetros de distância. 
Uma terra fértil acrescentada com a floresta e o campo apenas serviram para dar esperanças ao casal e seus cinco filhos. Porém, as aparências do bem-estar familiar não duram muito tempo após o bebê desaparecer misteriosamente. É a partir de então que o brilho do roteiro é mais forte, pois o psicológico das personagens é explorado ao máximo, apresentando as crenças religiosas e costumes tradicionais e incorruptíveis para a sociedade do século XVII, servindo como válvulas de escape e respostas para os temores ocorrentes. 
Tal desaparecimento foi seguido por mais eventos estranhos, como animais tornando-se violentos repentinamente e outro filho – aventurado na floresta – morto, mas não antes de apresentar sinais de feitiçaria. Some dois filhos mortos, sendo um bebê de colo, com plantação podre de milho e quase ou nenhuma caça e frutos e temos uma família de cinco membros com fome e caos psicológico. 
Depois de arado, o roteiro começa a molhar as sementes para o clímax do filme. Os gêmeos acusam a filha mais velha, Thomasin, de bruxaria, por estar presente nos desaparecimentos dos dois filhos e no momento de retorno amaldiçoado do segundo. O desenrolar da história apresenta-se agora nos últimos trinta minutos de filme, lado a lado do clímax, que, por sua vez, ocorre paralelamente ao estouro das consciências das personagens, quando elas chegam ao auge das dúvidas entre si mesmas e sobre as crenças aprendidas. 
A explosão emocional causou ainda mais caos à família, que desmoronou feito castelo de lego diante de tanta desconfiança e falsas acusações - e à sua mente que esperava um final feliz (não faça isso, há atriz de Game of Thrones no elenco). Mas, é, no mínimo, um final muito bom e inesperado, exceto a parte das flutuações - legal a ideia, mas poderia ser melhor trabalhada –, que me decepcionou um pouco, mas, nada que mudasse a experiência positiva que tive. 
A Bruxa venceu ano passado o Sundance Film Festival na categoria de Direção. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Aqui, vale ressaltar o excelente figurino, provando a impecável pesquisa sobre a época apresentada. Mesmo nas cenas de floresta fechada, a fotografia e direção de arte são muito boas, além de lembrar quadros de Francisco de Goya e conceitos de Hieronymus Bosch e Bruegel durante todo o filme. Elementos do antigo Häxan (1922) também são percebidos nos detalhes da trama. As atuações dos atores não deixaram a desejar, transparecendo o drama imposto pelo péssimo momento da família, que ainda assim tem uma das melhores demonstrações de fé que já vi na sétima arte. 
A cena de ilusão e fé cega de Katie Dickie com seus filhos mortos foi a que mais me surpreendeu e assustou, sem dúvidas, além de um pouco de repulsa, sentimentos não muito comuns na mesma cena na maioria dos filmes.
A trilha sonora não surpreende, chega a ser comum, mas foi bem aplicada algumas vezes, o que causa uma aflição extra durante as cenas. A edição não foi precipitada e teve uma boa sinergia com roteiro e direção, favorecendo o bom entendimento da história.
Nota: 4,5/5

Unknown

Cavaleiro que diz 'Ni', viajante das realidades temporais e ruminante mental aspirante a escritor.

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